- O Desejado de Todas as Nações III. O Ungido
A Voz do Deserto
Capítulo: 009 010011
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forças para resistir à tentação, e fugia do constante contato com o pecado, não viesse a perder o sentimento de sua inexcedível culpabilidade.
Dedicado a Deus como nazireu desde o nascimento, fez por si mesmo o voto de uma consagração de toda a vida. Vestia-se como os antigos profetas, duma túnica de pêlo de camelo, presa por um cinto de couro. Comia "gafanhotos e mel silvestre", achados no deserto, e bebia a água pura que vinha das montanhas.
A vida de João não era, entretanto, passada em ociosidade, em ascética tristeza, em isolamento egoísta. Ia de tempos a tempos misturar-se com os homens; e era sempre observador interessado do que se passava no mundo. De seu quieto retiro, vigiava o desdobrar dos acontecimentos. Com a iluminada visão facultada pelo Espírito divino, estudava o caráter dos homens, a fim de saber como lhes chegar ao coração com a mensagem do Céu. Pesava sobre ele a responsabilidade de sua missão. Meditando e orando, na solidão, buscava cingir a alma para a obra de sua vida. Se bem que habitando no deserto, não estava livre de tentações. Cerrava, quanto possível, toda entrada a Satanás; não obstante, assaltava-o ainda o tentador. Sua percepção espiritual, porém, era clara; desenvolvera resistência de caráter e decisão e, mediante o auxílio do Espírito Santo, era habilitado a pressentir a aproximação de Satanás, e resistir-lhe ao poder.
João encontrou no deserto sua escola e santuário. Qual Moisés entre as montanhas de Midiã, era circundado da presença de Deus, e das demonstrações de Seu poder. Não teve, como o grande líder de Israel, a sorte de habitar entre a solene majestade da solidão das montanhas; achavam-se, porém, diante dele as alturas de Moabe, além do Jordão, a falar-lhe dAquele que firmara os montes, cingindo-os de fortaleza. O triste e terrível aspecto da Natureza no deserto em que morava, pintava vivamente o estado de Israel. A frutífera vinha do Senhor, tornara-se em desolada ruína. Sobre o deserto, no entanto, curvava-se o céu luminoso e belo. As nuvens que se acumulavam, com o negror da tempestade, eram aureoladas pelo arco-íris da promessa. Assim, por sobre a degradação de Israel, brilhava a prometida glória do reino do Messias. As nuvens da ira eram emparelhadas pelo arco-íris do Seu misericordioso concerto.
Sozinho, no silêncio da noite, lia a promessa feita por Deus a Abraão, de uma semente tão inumerável como as estrelas. A luz da aurora, dourando as montanhas de Moabe, falava-lhe dAquele que havia de ser "como a luz